“Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as (...); ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” Mateus 28:19-20.
Ide e fazei discípulos de todas as nações. Foi a ordem clara de Jesus. Esta ordem dirige-se a todos os seus discípulos e o seu objecto inclui todas as pessoas, qualquer que seja a idade, o sexo, ocupação ou status social. Antes de a emitir, Jesus foi, ele próprio, um discipulador estabelecendo assim um modelo e, acima de tudo, um exemplo. Esta é a primeira grande regra do discipulado seja ele dirigido a crianças, jovens ou adultos. “Faz o que eu digo e não faças o que eu faço” é uma máxima muito utilizada, senão de forma explícita, pelo menos implícita, mas muito pouco funcional. A realidade é que ainda que a mensagem verbal passada seja “politicamente” correcta, fundamentada em valores bíblicos teoricamente aceites e interiorizados, aquela que é apreendida por aqueles a quem pretendemos discipular é a que é transmitida muitas vezes em silêncio, nos pequenos actos diários, irreflectidos e inconscientes que expressam as atitudes e motivações interiores que constituem a nossa forma de estar na vida. É assim com os adultos e ainda mais com as crianças, pois enquanto aqueles têm (ou devem ter) uma maturidade adquirida ao longo de uma vida de experiências que lhes permite compreender a diferença entre o certo e o errado para além do que vêem ser praticado, estes modelam-se por aquilo que observam e fazem, mais do que por aquilo que ouvem. Estamos pois a discipular esta geração de pequenos, grandes potenciais, a cada dia, queiramos ou não, para o bem ou para o mal. A opção é nossa e a responsabilidade também.
O discipulado de crianças tem duas vertentes: A família e a igreja – comunidade local. A família é, sem dúvida, o primeiro centro de discipulado para a criança e é responsável perante Deus pela forma como o desenvolve. Esse facto acrescenta à igreja a responsabilidade de treinar as famílias para o bom desempenho da sua função bem como de tornar-se parceira com elas no alcance do objectivo – fazer das crianças, discípulos de Jesus no carácter e na acção.
A Família e o discipulado de crianças
Como é que a família discipula as crianças que Deus lhe confiou?
· Através da vivência de princípios.
Amar a Deus acima de todas as coisas (Ele é o centro da vida pessoal e familiar), de todo o coração (determinação e dedicação consciente, da vontade) com toda a alma (devoção) e com todo o entendimento (compreensão) e ao próximo (o outro, enquanto pessoa) como a si mesmo (auto-respeito e auto-estima), encerra o código de vida de Jesus, pregado, vivenciado e ensinado a todos os seus discípulos. Se as famílias de hoje viverem de acordo com ele, estarão a perpetuar o seu ensino e a cumprir o seu desejo.
De que formas práticas podem os pais vivenciar o amor a Deus diante dos filhos? Passando tempo de qualidade com Ele em oração e meditação de forma exposta, individual e conjunta; Fazendo escolhas que se alinham com os princípios e valores expressos na Sua Palavra ainda que aparentemente inconvenientes explicando a razão dessa escolha; Procurando conhecer e aceitar a Sua vontade e liderança como regra de vida, Amando os filhos.
De que formas práticas podem os pais demonstrar o amor de Deus aos filhos? Quando a criança erra e a fazemos sentir o nosso perdão e o perdão de Deus. Com o intuito de obter bom comportamento muitas pessoas ainda ameaçam com “Assim já não gosto de ti” ou, “Jesus está zangado contigo. Já não te ama.” O que para além de mentira é também uma grande maldade. A verdade é que Deus sempre gostará dela e nós também e é essa segurança que lhe precisamos transmitir. Arrependimento e disciplina ensinam-se com amor e perdão. Que ela crie esta convicção: “Não há nada que eu possa fazer de tão mau que diminua o amor que Ele tem por mim e nada de tão bom que o faça aumentar. Ele ama-me porque me ama.”
De que formas práticas podem os pais demonstrar o amor ao próximo? Prescindindo de alguma coisa importante para si em prol do outro, tal como de um passeio de fim-de-semana em família planeado antecipadamente e entretanto investido na ajuda a alguém em necessidade; No cuidado que tem pelos seus idosos; No interesse demonstrado pelos vizinhos ou pelos amigos dos filhos, Na prática da hospitalidade, da tolerância, da construção de amizade. No incentivo ao serviço, dentro da família em que todos participam nas tarefas domésticas com alegria (sem esquecer o prémio e o elogio da boa atitude e desempenho).
· Pela explicação dos princípios que vive
As crianças devem aprender quanto ás razões que fazem a sua família ser diferente de outras, provavelmente até, da maioria das famílias dos seus colegas de escola. Devem ser envolvidas na Igreja local com consistência, o que significa atendencia e participação regular com alegria e não por mero cumprimento de dever. Os pais também estão a discipular quando entendem o seu envolvimento na igreja como um prazer e desenvolvem um bom relacionamento com ela, e mesmo quando as coisas correm menos bem, não transformam o lar num mercado de exposição de erros, lamúrias e murmuração.
As crianças podem aprender a dar ofertas e dízimos e a serem participantes no serviço cristão, tanto quanto as suas características etárias lhe permitam (ver quadro).
A Igreja e o discipulado de crianças
Como é que a Igreja investe no discipulado de crianças?
Através da vivência. A comunidade local, como um todo, está a discipular pela forma como é
Igreja. Neste sentido, é preciso que nos coloquemos algumas questões que nos ajudem a reflectir e decidir em conformidade.
Como é que vemos as crianças? São uma riqueza e uma herança, pessoas totais com características e necessidades específicas a quem devemos proteger e que merecem o nosso cuidado especial.
O que é que vemos em termos de potencialidades de ministério? O espírito não tem idade pelo que o seu podem ser verdadeiros adoradores usados por Deus tanto quanto os adultos. A forma pode diferir. Talvez não orem durante uma hora de olhos fechados e em pé! Talvez ministrem sem constrangimentos, com uma fé simples que realmente pode “mover montanhas”.
Consideramos serem elas a igreja de amanhã ou parte integrante da igreja de hoje? Os cordeiros fazem parte do rebanho tanto quanto as ovelhas que os geraram. E o pastor é responsável pelo bem estar de todos.
O que e como falamos ácerca das crianças? A nossa atitude é muitas vezes determinante do que dizemos. E as crianças não são os “diabinhos” perturbadores da ordem.
Como são recebidas na nossa comunidade? Fazêmo-las sentirem-se aceites como indivíduos de tamanho menor (ás vezes!), queridas como parte integrante da família que somos.
O que fazemos em termos de treinamento e apoio aos pais? Promovemos preparação para pais, ensino, acompanhamento..... porque aprendemos ao longo da vida.
Através da criação de oportunidades de ministério prático, na Igreja Infantil/Escola Dominical ou Departamento de Crianças.
Pela motivação a que vivam a Palavra numa relação pessoal com Deus, consistente e com os outros em aprendizagem de valorização e respeito mútuo. Isto é possível através de planeamento do ensino adequado e contextualizado, conforme referimos em artigos anteriores nesta secção, mas sem esquecer a componente “vida” do discipulado, adicionando a dinamização de relações pessoais influentes, pelo poder do exemplo. Isto requer a mobilização de adultos que assumam o compromisso com um pequeno grupo, dentro ou fora do culto infantil/escola dominical. Requer a motivação para a memorização de versículos e leitura bíblica (através de um jornal mensal de leituras diárias e versículos para memorização semanal). A motivação para a frequência regular e o trazer amigos. Estas coisas podem ser estimuladas pela acumulação de pontos que dão direito ao levantamento de prémios mensais/ trimestrais.
São muitas as áreas de ministério prático nas quais podemos discipular as crianças no serviço.
.No culto geral ou de família (em que todos estão presentes), no culto infantil, no Evangelismo, no cuidado pastoral com faltosos ou novos convertidos, no apoio social a carenciados, doentes, idosos.
Com a orientação dos adultos eles podem escolher de acordo com as suas preferencias pessoais Em qualquer destes o acompanhamento e supervisão do adulto é fundamental . (ver quadro).